terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Michael, o Paulo e eu!

O Michael, o Paulo e eu! Fomos três amigos inseparáveis nos idos anos oitenta. Conhecemo-nos em casa do Paulo no verão de 1983, na sua sala, através da sua soberba aparelhagem. O Michael apresentava-se magnificamente vestido, com um fato branco, na capa do vinil, com o nome Thriller. Que grande álbum aquele! O Thriller era a cereja no topo do bolo, um bolo suculento … o Billie Jean, o The Girl is mine, o Beat it, e outras eram músicas inesquecíveis e de qualidade maior. O Michael tinha o cuidado de fazer bem tudo onde tocava. Era exigente com sigo próprio. A parte instrumental da música e os coros … tudo parecia perfeito no conjunto. Mas, depois, quando tivemos contacto com o vídeo clip do Thriller, bem, coisa nunca vista! O problema é que não tínhamos nada por onde comparar. O Thriller era uma espécie de um filme, uma curta-metragem completa com uma história que podíamos acompanhar.
Lembro-me bem daquela rapariga perdida no meio do bosque e o Michael, no seu encalço, a salvar-lhe a pele dos lobisomens. Bem, nós do alto dos nossos dez anos, (o Michael era mais velho), sonhávamos com aquilo, sem medos e acrescentávamos sequelas à história que desfilavam na tela da nossa imaginação. Cães fantasma, homens a arrastar correntes durante a noite, casas assombradas, eram os ingredientes das nossas receitas com que tentávamos impressionar as miúdas da escola. O Paulo gostava à brava dessas histórias e de exagerar nos pormenores. Eu levava um rádio a pilhas que rodava, até à exaustão, uma cassete para onde já tínhamos copiado o disco. De meias, na sala, nos lugares onde não havia carpetes, naquele quarto andar, tentávamos imitar os passos de dança do génio, do Fred Astaire dos anos oitenta. O Michael parecia que voava baixinha a rodopiar ou a fazer o Munwalk e nós, meios tontos, tentávamos não cair a imitá-lo. Parvoíce! Tentar fazer o mesmo, como se tal fosse exequível. Bons tempos aqueles em que, os três, passávamos longas tardes de verão a fugir ao calor mas a soar de tanta agitação com aquele álbum onde o Michael estava a acariciar um leão. Seria um leão ou um leopardo? Estas mais de duas décadas volvidas embriagam-me a memória visual, mas a auditiva, está cá toda e é atiçada com o novo Thriller em CD ou MP3. Digo-vos, não é a mesma coisa. O vinil tem aquele som característico dos estalidos da agulha que são inigualáveis. E agora, volvidos estes anos todos, vários álbuns depois, mas a mesma emoção e admiração pelo Michael, eis que ele se vai. É certo, tinha que ir primeiro. Era mais velho mas, assim, … de repente, sem sequer se despedir com mais um álbum ou um concerto? Não está certo Michael. Pode ser um pensamento egoísta mas os que morrem não imaginam o sofrimento que deixam aos que cá ficam. Pelo menos, bicam as boas memórias, fica tudo aquilo que o rei da pop deixou para que os seus fãs vão alimentando a saudade. Pelo menos, eu e o Paulo continuamos por cá, agora mais velhos, já com os primeiros cabelos brancos a lembrar que já temos idade para ter juízo mas, ainda disponíveis para, um dia destes, quem sabe, fazermos um novo encontro, agora só a dois, mas com a mesma veemência de quando éramos três. Michael,... onde estiveres, lembra-te que há aqui dois “tugas” que te curtiam bem a brava. Agosto de 2009 José Fernando Rodrigues