domingo, 20 de fevereiro de 2011
MAIORIA SILENCIOSA VENCE ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Portugal foi às urnas há quase um mês. Parece-me mais correcto corrigir para: menos de metade de Portugal foi às urnas. É que quem ganhou estas eleições não foi o Professor Cavaco Silva, foi um candidato sem rosto chamado abstenção. Será que o nosso presidente recém-eleito se sente completamente representativo de todos os portugueses, o mais alto magistrado da nação, quando apenas cerca de dois milhões de portugueses votaram nele? Tenho consideração pelo nosso Presidente e penso que, por diversas vezes, ele deve reflectir sobre isto. É claro que não está em causa a legitimidade da sua reeleição mas … que é chato lá isso é.
Porque será que os portugueses não saem de casa para ir exercer o seu dever cívico? Será que já se esqueceram dos ideais de Abril? Será que a democracia representativa está em crise? Será que um voto já não tem qualquer valor?
Para mim são diversas as razões que justificam a abstenção: os maus exemplos de alguns políticos, a sua conduta desviante, os casos, enfim, os maus caminhos que a política proporciona a quem tem défice de escrúpulos. Tudo isto cansa ou cansou os portugueses. O resultado do Senhor Coelho da Madeira e do Senhor Nobre, se somados aos votos nulos e brancos, entroncam nesta linha de descontentamento e desgaste que os políticos sofrem porque são sempre os mesmos. Portugal consente uma espécie de rotativismo que leva a que os mesmos se alternem no poder em períodos de quatro em quatro anos.
Depois há razões mais práticas que justificam a abstenção. O sistema eleitoral português não evoluiu e não se deu conta que a sociedade mudou, está mais móvel e não está para perder grande tempo com coisas somenos importantes. Em pleno século XXI não faz sentido um número de eleitor agarrado a uma mesa de voto de uma qualquer freguesia. Assim como também não faz grande sentido o voto em papel. Os portugueses viajam e querem votar onde lhe der mais jeito. Os portugueses aderiram ao cartão do cidadão e querem dar-lhe utilidade. Para mim fazia mais sentido o voto electrónico nacional em que qualquer cidadão, com o seu número de cidadão, em qualquer zona do país se pudesse deslocar a uma urna electrónica e pudesse votar. Para mim fazia mais sentido uma plataforma na internet onde os acamados, deficientes, doentes e população prisional, assim como os portugueses que se encontram no estrangeiro, simplesmente e com confidencialidade pudessem votar. Estas medidas reduziriam em força a abstenção poupariam milhões de euros ao Estado no fabrico dos votos e na redução de recursos humanos que são necessários num processo eleitoral. O Brasil, cem vezes maior que Portugal, consegue colocar em prática o voto electrónico e, poucas horas depois de fechadas as urnas, publicar os resultados oficiais. Naturalmente as urnas electrónicas e as plataformas online para o voto à distância custam dinheiro mas é dinheiro que só se gasta uma vez. É preciso é que as coisas sejam feitas para que não falhem como aconteceu no último dia das eleições em que milhares de cidadãos ficaram impedidos de votar por uma falha informática.
Como vêm as soluções e a tecnologia existem, falta é vontade. O que me entristece e agasta é que os políticos que, na noite eleitoral, se mostram muito preocupados com a abstenção e prometem reflexões profundas, nos dias seguintes, nos comités centrais, nos conselhos nacionais dos partidos, limitam-se a contar espingardas e a analisar os resultados eleitorais à lupa fazendo uma autêntica caça às bruxas descobrindo quem votou em A ou em B. Os políticos não querem discutir nem resolver a abstenção. Passam por ela e assobiam para o lado ou enterram a cabeça na areia como a outra porque quantos menos forem a votar melhor se controlam. É o habitual dividir para reinar.
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