quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ao Capitão Salgueiro Maia


Nosso Bravo Capitão!
Neste dia em que se comemora mais um 25 de abril, apeteceu-me dirigir-lhe esta mensagem, ao Senhor que fez coisas tão bonitas naquela longínqua madrugada e dia primaveril de 1974. Não é um dia longínquo em termos cronológicos porque só ainda passaram 38 anos, é um dia distante em termos ideológicos, em termos de valores, pois cada vez estamos mais longe daquilo que vos fez sair dos quartéis e ir para as ruas.
Caro Capitão: na verdade alguns políticos sem escrúpulos começaram a estragar a sua obra logo no dia 26 de abril e hoje esses políticos multiplicaram-se aos milhares, ofuscando aqueles que são sérios e pretendem servir a causa pública com honra e dignidade.
Veja Capitão, estamos em mais uma crise profundíssima em que os portugueses sofrem sem culpa e calados, enquanto que alguns vestem o seu melhor fato, colocam o cravo na lapela e vão para o Parlamento bater no peito e dar vivas a Portugal. Enchem páginas de discursos retóricos e inconsequentes, abraçam-se e dão palmadinhas nas costas e depois, depois vão comer e beber à conta do orçamento como se o país lá fora não existisse. E o povo, o povo está em casa, deprimido e de bolsos vazios, sim porque não pode sair: a gasolina está cara e não há dinheiro para gastar. O dinheiro tem que se guardar para as taxas moderadoras, para o aumento do IVA, da luz e do gás porque aqueles senhores da EDP ou da Galp não podem diminuir o seu pecúlio. E depois se saírem têm que ir pelas nacionais porque as portagens estão caras, arriscando um acidente em troços degradados cheios de curvas e perigos. Não, o melhor é ficar em casa.
Ai Capitão, oxalá aqueles cravos queimassem o peito daqueles energúmenos sem moral que se andam a servir a si e aos seus. A maioria daqueles indivíduos viram as costas ao país, fogem do desconforto de serem abordados na rua por quem os elegeu, refugiam-se atrás de uma cobarde imunidade para não terem de dar explicações pelos seus atos. Grande número deles, são indignos de usar tão delicada flor na lapela.
Até eu, Capitão que aprendi a respeitar e admirar os bons políticos estou a começar a perder a paciência. Alguns podem acusar-me de demagogia ao lerem estas palavras mas eles também sabem que tudo isto é a verdade, também conhecem alguém que já se serviu da política e também identificam bons políticos que desistiram de remar contra a maré e de denunciar as más práticas.
Caro Capitão, o 25 de abril faz-se nas ruas e é nas ruas que deve ser comemorado. As cerimónias oficiais nada dizem aos portugueses a não ser que fazem crescer em nós um sentimento de revolta e de afastamento da vida política. Onde estão as enchentes do Largo do Carmo ou do terreiro do Paço? Será que o 25 de abril já nada diz aos portugueses? Isto é que deveria ser refletido. E as novas gerações, quem lhes explica o que foi o 25 de abril? Deveria ser a sociedade com o seu exemplo.
Capitão Salgueiro Maia, desculpe por aquilo que alguns portugueses fizeram ao seu 25 de abril. Lamento a situação a que isto chegou e lamentamos todos mas nós somos um povo pacífico e só acordamos quando os problemas nos entram pela casa dentro. Até compreendemos os problemas dos outros, até nos consternamos com eles mas afastamo-nos à primeira oportunidade.
É com tristeza que lhe digo que o seu 25 de abril ainda não se cumpriu e que entendo a atitude dos seus colegas militares em não estarem presentes nas comemorações oficiais.
Só quando os portugueses souberem o que é a verdadeira liberdade, só quando forem ignorados e condenados os maus políticos e elogiados e recompensados os bons, só quando o povo perceber que tem mais poder do que aquele que pensa ter, só nessa altura se cumprirá o 25 de abril.
O 25 de abril deve ser um património de todos e não de meia dúzia de paladinos de esquerda que acham que tal efeméride lhes pertence.
Um abraço e obrigado Capitão pelo que fez por Portugal.