É curioso como, com todo o conhecimento e informação que circula globalmente, a Humanidade ainda caia nestes engulhos embaraçosos para a nossa inteligência coletiva. Agora como sempre, os rastilhos de ideias catastrofistas e apocalípticas circulam com uma velocidade estonteante, alimentados por más interpretações, fragilidades de espírito e órgãos de comunicação social que, mobilizados pela avidez das audiências, abrem telejornais e primeiras páginas com notícias do fim do mundo, gastando milhares pagos por todos nós deslocando enviados especiais para cobrir uma não notícia, à custa dos nossos impostos, levando a uma histeria coletiva e retirando o sono a muitos milhares de crianças que, confusos e ainda não dotados pelas armas do conhecimento devido à sua tenra idade, dão voltas e voltas na cama a imaginar como será essa aventura de desaparecermos todos como que por magia. A atualidade traz-nos outro fenómeno novo que acicata ainda mais as hostes: as redes sociais e a possibilidade de todos sermos uma espécie de jornalistas que queremos fazer notícia na nossa pequena audiência constituída pelos amigos virtuais. Uns porque querem dar no olho, outros porque querem impressionar, outros para não estarem fora destes temas chiques que toda a gente comenta e ainda aqueles – muito poucos espero – que acreditaram mesmo que tínhamos chegado ao ómega dos tempos.
E tudo isto por culpa dos Maias!? Esse povo tão espetacular que quase foi destruído num choque de civilizações havido lá pelos idos do século XVI, esse povo que adorava o sol e tinha um calendário solar e lunar quase perfeito com grandes ciclos de mais de cinco mil anos cada. Ora, o problema é que um ciclo até poderia terminar no passado dia 21 mas outro ciclo começou segundo a lógica Maia. Mas, desde o início dos tempos existem estes epifenómenos do fim do mundo. Imaginem o sentimento coletivo das primeiras comunidades humanas ao terem de lidar com um eclipse total do sol. Pensem no que viveram os romanos quando o louco Nero mandou pegar fogo à cidade. Imaginem o que sentiram os habitantes de Pompeia. E no século XIV quando 30% dos habitantes de uma qualquer localidade europeia pereciam de peste? Imaginem o turbilhão de sentimentos dos lisboetas perante o terramoto de 1755. A própria Bíblia está cheia de episódios catastrofistas: as sete pragas do Egito, a morte de todas as crianças com idade inferior a dois anos durante o governo de Erodes, enfim e o ícone da catástrofe que é o Apocalipse. As religiões têm esta necessidade de atemorizar os fiéis para não os deixar fugir e os continuar a controlar até ao juízo final. Em todas as religiões principais isto acontece: a ideia do fim dos tempos em que, nessa altura, virá um salvador para levar os eleitos e os proteger nas asas da eternidade. Temos algumas seitas curiosas – que respeito mas tenho a liberdade de não seguir - que passam a vida a falar no fim do mundo como por exemplo as Testemunhas de Jeová que, só no século XX fizeram duas previsões do fim dos tempos: uma em 1914 e outra nos anos setenta.
Bem mas a ciência é bem mais objetiva, pragmática e realista. Segundo a astrofísica, se nenhum corpo celeste desgovernado chocar com a terra nós estaremos por cá até que o sol se extinga daqui a cinco mil milhões de anos. Nessa altura, acredito eu, já a humanidade, se não se autodestruir antes com um conflito atómico, químico ou biológico à escala global, terá condições para povoar outros planetas noutras galáxias fora do nosso sistema solar. A menos que este universo – finito ou infinito, não sei – desapareça, quase que me arriscaria a dizer que, em condições normais e se nenhuma catástrofe natural nos atingir globalmente, a Humanidade, essa sim, pode ser eterna.
Mas vamos regressar ao nosso quotidiano para terminarmos esta já longa reflexão. Reparem que até eu me deixei “impressionar” com esta histeria do fim dos tempos!
E nós por cá, fechamos mais um ciclo nesta época festiva. Os nossos ciclos são bem mais pequenos
do que os dos Maias, costumam ter doze meses. Pois é, estamos a aproximar-nos de um novo ciclo. Nesta hora apetece-me deixar em paz o Pai Natal e o “Menino” e pedir a quem teve a paciência de chegar aqui nesta leitura, para olhar para dentro de si. Não vou pedir saúde, sorte, prendas nem prosperidades para todos, apenas peço que cada um de nós olhe para o interior de si mesmo e se questione se fez tudo o que queria em 2012, pense no que fez bem e no que fez mal, se foi feliz, se vive em paz consigo mesmo e organize 2013 na sua cabeça segundo objetivos realizáveis e atingíveis. Peça desculpas a quem quer pedir, telefone a quem já não vê há muito tempo e cumpra mais um pequeno sonho possível antes que o ano termine! Li algures que se pensarmos num objetivo de cada vez e os formos realizando seremos mais felizes. Dizem os arautos da desgraça que 2013 vai ser um ano difícil mas dentro de nós temos todas as ferramentas que necessitamos para ultrapassar as dificuldades, basta acreditarmos em nós e nas nossas capacidades. É claro que se o Altíssimo, todos os deuses e deusas – até os dos Maias – todas as ninfas e tágides quiserem ajudar, ficaremos gratos.
Agora mesmo para fechar, quero pensar no meu país e deixar uma frase gasta mas livre de qualquer carga política. “Quem faz Portugal são os portugueses”. É verdade e no final de 2012 aconteceram coisas muito bonitas em Portugal. Fica para a nossa História coletiva aquele grandioso dia de 15 de setembro em que os portugueses saíram à rua sem terem sido empurrados por interesses instalados de sindicatos organizações ou coletividades. E é este capital humano coletivo de confiança e vontade que não podemos eixar morrer. Os maus políticos, os corruptos e viciados pelo poder precisam saber que estamos acordados e atentos e que, se as coisas continuarem no rumo que estão indo, a corda vai partir e será para o lado deles que são o lado mais fraco. Se nas próximas eleições tivermos todos de ir votar em branco para eles perceberem a força de um povo, pois lá estaremos. Se tivermos de ir novamente para a rua em mais dias 15 de qualquer mês, pois iremos! Dizem que o século XX foi o século do povo. Pois que o século XXI seja o século de um povo esclarecido, interventivo e com vontade. Nunca se esqueçam que a História é um tribunal justo e que os portugueses serão sempre lembrados como um grande povo enquanto que os maus políticos serão inscritos na História no capítulo das corjas, dos néscios, dos oportunistas que se esfumam na espuma dos tempos. Mas, voltando ao início, somos demasiado importantes e interessantes, somos um povo fantástico e não podemos deixar que a pátria lusa se extinga ou viva o fim do mundo.