domingo, 23 de dezembro de 2012

Os Maias estavam enganados!

É curioso como, com todo o conhecimento e informação que circula globalmente, a Humanidade ainda caia nestes engulhos embaraçosos para a nossa inteligência coletiva. Agora como sempre, os rastilhos de ideias catastrofistas e apocalípticas circulam com uma velocidade estonteante, alimentados por más interpretações, fragilidades de espírito e órgãos de comunicação social que, mobilizados pela avidez das audiências, abrem telejornais e primeiras páginas com notícias do fim do mundo, gastando milhares pagos por todos nós deslocando enviados especiais para cobrir uma não notícia, à custa dos nossos impostos, levando a uma histeria coletiva e retirando o sono a muitos milhares de crianças que, confusos e ainda não dotados pelas armas do conhecimento devido à sua tenra idade, dão voltas e voltas na cama a imaginar como será essa aventura de desaparecermos todos como que por magia. A atualidade traz-nos outro fenómeno novo que acicata ainda mais as hostes: as redes sociais e a possibilidade de todos sermos uma espécie de jornalistas que queremos fazer notícia na nossa pequena audiência constituída pelos amigos virtuais. Uns porque querem dar no olho, outros porque querem impressionar, outros para não estarem fora destes temas chiques que toda a gente comenta e ainda aqueles – muito poucos espero – que acreditaram mesmo que tínhamos chegado ao ómega dos tempos.
E tudo isto por culpa dos Maias!? Esse povo tão espetacular que quase foi destruído num choque de civilizações havido lá pelos idos do século XVI, esse povo que adorava o sol e tinha um calendário solar e lunar quase perfeito com grandes ciclos de mais de cinco mil anos cada. Ora, o problema é que um ciclo até poderia terminar no passado dia 21 mas outro ciclo começou segundo a lógica Maia. Mas, desde o início dos tempos existem estes epifenómenos do fim do mundo. Imaginem o sentimento coletivo das primeiras comunidades humanas ao terem de lidar com um eclipse total do sol. Pensem no que viveram os romanos quando o louco Nero mandou pegar fogo à cidade. Imaginem o que sentiram os habitantes de Pompeia. E no século XIV quando 30% dos habitantes de uma qualquer localidade europeia pereciam de peste? Imaginem o turbilhão de sentimentos dos lisboetas perante o terramoto de 1755. A própria Bíblia está cheia de episódios catastrofistas: as sete pragas do Egito, a morte de todas as crianças com idade inferior a dois anos durante o governo de Erodes, enfim e o ícone da catástrofe que é o Apocalipse. As religiões têm esta necessidade de atemorizar os fiéis para não os deixar fugir e os continuar a controlar até ao juízo final. Em todas as religiões principais isto acontece: a ideia do fim dos tempos em que, nessa altura, virá um salvador para levar os eleitos e os proteger nas asas da eternidade. Temos algumas seitas curiosas – que respeito mas tenho a liberdade de não seguir - que passam a vida a falar no fim do mundo como por exemplo as Testemunhas de Jeová que, só no século XX fizeram duas previsões do fim dos tempos: uma em 1914 e outra nos anos setenta.
Bem mas a ciência é bem mais objetiva, pragmática e realista. Segundo a astrofísica, se nenhum corpo celeste desgovernado chocar com a terra nós estaremos por cá até que o sol se extinga daqui a cinco mil milhões de anos. Nessa altura, acredito eu, já a humanidade, se não se autodestruir antes com um conflito atómico, químico ou biológico à escala global, terá condições para povoar outros planetas noutras galáxias fora do nosso sistema solar. A menos que este universo – finito ou infinito, não sei – desapareça, quase que me arriscaria a dizer que, em condições normais e se nenhuma catástrofe natural nos atingir globalmente, a Humanidade, essa sim, pode ser eterna.
Mas vamos regressar ao nosso quotidiano para terminarmos esta já longa reflexão. Reparem que até eu me deixei “impressionar” com esta histeria do fim dos tempos!
E nós por cá, fechamos mais um ciclo nesta época festiva. Os nossos ciclos são bem mais pequenos

do que os dos Maias, costumam ter doze meses. Pois é, estamos a aproximar-nos de um novo ciclo. Nesta hora apetece-me deixar em paz o Pai Natal e o “Menino” e pedir a quem teve a paciência de chegar aqui nesta leitura, para olhar para dentro de si. Não vou pedir saúde, sorte, prendas nem prosperidades para todos, apenas peço que cada um de nós olhe para o interior de si mesmo e se questione se fez tudo o que queria em 2012, pense no que fez bem e no que fez mal, se foi feliz, se vive em paz consigo mesmo e organize 2013 na sua cabeça segundo objetivos realizáveis e atingíveis. Peça desculpas a quem quer pedir, telefone a quem já não vê há muito tempo e cumpra mais um pequeno sonho possível antes que o ano termine! Li algures que se pensarmos num objetivo de cada vez e os formos realizando seremos mais felizes. Dizem os arautos da desgraça que 2013 vai ser um ano difícil mas dentro de nós temos todas as ferramentas que necessitamos para ultrapassar as dificuldades, basta acreditarmos em nós e nas nossas capacidades. É claro que se o Altíssimo, todos os deuses e deusas – até os dos Maias – todas as ninfas e tágides quiserem ajudar, ficaremos gratos.
Agora mesmo para fechar, quero pensar no meu país e deixar uma frase gasta mas livre de qualquer carga política. “Quem faz Portugal são os portugueses”. É verdade e no final de 2012 aconteceram coisas muito bonitas em Portugal. Fica para a nossa História coletiva aquele grandioso dia de 15 de setembro em que os portugueses saíram à rua sem terem sido empurrados por interesses instalados de sindicatos organizações ou coletividades. E é este capital humano coletivo de confiança e vontade que não podemos eixar morrer. Os maus políticos, os corruptos e viciados pelo poder precisam saber que estamos acordados e atentos e que, se as coisas continuarem no rumo que estão indo, a corda vai partir e será para o lado deles que são o lado mais fraco. Se nas próximas eleições tivermos todos de ir votar em branco para eles perceberem a força de um povo, pois lá estaremos. Se tivermos de ir novamente para a rua em mais dias 15 de qualquer mês, pois iremos! Dizem que o século XX foi o século do povo. Pois que o século XXI seja o século de um povo esclarecido, interventivo e com vontade. Nunca se esqueçam que a História é um tribunal justo e que os portugueses serão sempre lembrados como um grande povo enquanto que os maus políticos serão inscritos na História no capítulo das corjas, dos néscios, dos oportunistas que se esfumam na espuma dos tempos. Mas, voltando ao início, somos demasiado importantes e interessantes, somos um povo fantástico e não podemos deixar que a pátria lusa se extinga ou viva o fim do mundo.

domingo, 9 de setembro de 2012

Mensagem a Passos Coelho

Caro Passos Coelho!
Dirijo-me a si de cidadão para cidadão.
O meu avô, patriarca de uma grande família de 10 filhos e 16 netos, ensinou-nos a gostar do PSD e dos seus líderes. Ele tinha uma veneração por Sá Carneiro e Cavaco Silva e, na sua simplicidade, conseguiu que grande parte da nossa família continuasse a seguir e a votar no PSD. Infelizmente para nós mas felizmente para ele – politicamente falando – ele já faleceu e não viu o PSD a definhar e a tomar medidas incríveis contra os cidadãos portugueses, contra a letra do seu próprio hino.
Caro Passos Coelho, será que o Primeiro-Ministro dorme descansado com estas medidas de austeridade dirigidas sempre aos mesmos? Será que o Primeiro-Ministro não vê que o povo já não é estupido e está farto? O que é que falta caro cidadão Passos Coelho? Falta irmos para a rua partir carros e montras? Falta fazermos manifestações e greves sucessivas? Falta votarmos todos em branco nas próximas eleições?
Caro Passos Coelho sei que é um Home sério e capaz. Por favor, diga ao Primeiro-Ministro que assim o governo não vai lá. O governo tem de ter coragem para emagrecer o estado, tem de fazer a reforma administrativa e eleitoral, tem de reduzir a despesa, tem de acabar com a vergonha dos que escondem o produto da especulação em paraísos fiscais, tem de acabar com fundações inúteis que a sociedade não necessita e institutos que só servem para pagar favores políticos, tem de acabar com os cassos excecionais dos administradores nas empresas públicas, enfim, tem de fazer diferente, arrumar a casa, reduzir o número de políticos, assessores, assessores dos assessores, … Há medidas que podem significar poucos milhões mas servem como exemplo.
Caro Passos Coelho, por favor, faça isto e terá Portugal a seu lado. Olhe que é um simpatizante do PSD que lho diz.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mais um verão quente está para chegar


Nos últimos dias o governo anunciou o dispositivo de combate a incêndios que vai estar disponível na fase “bravo”, a fase mais sensível e perigosa que coincide com os meses de maior estio. E parece que este verão vai ser mesmo quente!
Quase dois mil homens e mulheres que vão colocar a sua energia e a sua vida em risco, centenas de viaturas, dezenas de meios aéreos e está tudo pronto para começar o “espetáculo” dos incêndios nos horários nobres das televisões.
E tudo isto porque? Porque não há uma política estruturada e pensada a longo prazo de prevenção, porque não há uma valorização dos nossos recursos florestais.
Qualquer leigo no assunto sabe como se previne este flagelo anual que se repete há décadas. Não é necessário ser especialista para se defender que os fogos se combatem quando estão no começo. Mas o ideal seria nem sequer haver ignição.
Ficam algumas ideias exequíveis no imediato e a médio prazo que rapidamente dariam os seus frutos. Vá-se lá saber por que razão as coisas não mudam. Permitam-me a falta ingenuidade mas até parece que há interessado em ver Portugal a arder. Porque não colocamos as nossas forças armadas a proteger e vigiar as nossas florestas? O que estão a fazer esses efetivos nos quarteis? Porque não tornamos produtivos os milhares de portugueses que recebem o rendimento social de inserção? Há muitas matas do estado para limpar e com um incentivo extra, acrescentado ao seu rendimento, poderíamos colocar muitos homens e mulheres ao serviço da sociedade. Porque não distribuir, a título de empréstimo, as matas públicas por quem as quiser aproveitar rentabilizando assim os seus recursos? A nossa floresta constitui uma riqueza coletiva e temos que pensar seriamente na questão da biomassa criando centros de recolha e transformação espalhados pelo pais para rentabilizar aquilo que dá tanto que fazer aos bombeiros porque cresce sem qualquer controlo. Está na altura de fazer um cadastro nacional das propriedades florestais para que se possa castigar aqueles proprietários que não cuidam daquilo que é seu.
Estas medidas custam dinheiro mas, estou em crer, os custos são inferiores do que os gastos com o combate aos incêndios. Para além das questões económicas existem outras sem preço: tornamos as nossas florestas mais vivas e úteis, geramos riqueza partindo de um recurso que é só nosso, protegemos os eco sistemas e tornamos úteis setores da sociedade que, infelizmente, se tornaram num peso morto social.
Se muitos dizem que não descobri a pólvora, se não há aqui nada de novo, então porque não se mudam as coisas para que Portugal saia deste inferno com data marcada?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ao Capitão Salgueiro Maia


Nosso Bravo Capitão!
Neste dia em que se comemora mais um 25 de abril, apeteceu-me dirigir-lhe esta mensagem, ao Senhor que fez coisas tão bonitas naquela longínqua madrugada e dia primaveril de 1974. Não é um dia longínquo em termos cronológicos porque só ainda passaram 38 anos, é um dia distante em termos ideológicos, em termos de valores, pois cada vez estamos mais longe daquilo que vos fez sair dos quartéis e ir para as ruas.
Caro Capitão: na verdade alguns políticos sem escrúpulos começaram a estragar a sua obra logo no dia 26 de abril e hoje esses políticos multiplicaram-se aos milhares, ofuscando aqueles que são sérios e pretendem servir a causa pública com honra e dignidade.
Veja Capitão, estamos em mais uma crise profundíssima em que os portugueses sofrem sem culpa e calados, enquanto que alguns vestem o seu melhor fato, colocam o cravo na lapela e vão para o Parlamento bater no peito e dar vivas a Portugal. Enchem páginas de discursos retóricos e inconsequentes, abraçam-se e dão palmadinhas nas costas e depois, depois vão comer e beber à conta do orçamento como se o país lá fora não existisse. E o povo, o povo está em casa, deprimido e de bolsos vazios, sim porque não pode sair: a gasolina está cara e não há dinheiro para gastar. O dinheiro tem que se guardar para as taxas moderadoras, para o aumento do IVA, da luz e do gás porque aqueles senhores da EDP ou da Galp não podem diminuir o seu pecúlio. E depois se saírem têm que ir pelas nacionais porque as portagens estão caras, arriscando um acidente em troços degradados cheios de curvas e perigos. Não, o melhor é ficar em casa.
Ai Capitão, oxalá aqueles cravos queimassem o peito daqueles energúmenos sem moral que se andam a servir a si e aos seus. A maioria daqueles indivíduos viram as costas ao país, fogem do desconforto de serem abordados na rua por quem os elegeu, refugiam-se atrás de uma cobarde imunidade para não terem de dar explicações pelos seus atos. Grande número deles, são indignos de usar tão delicada flor na lapela.
Até eu, Capitão que aprendi a respeitar e admirar os bons políticos estou a começar a perder a paciência. Alguns podem acusar-me de demagogia ao lerem estas palavras mas eles também sabem que tudo isto é a verdade, também conhecem alguém que já se serviu da política e também identificam bons políticos que desistiram de remar contra a maré e de denunciar as más práticas.
Caro Capitão, o 25 de abril faz-se nas ruas e é nas ruas que deve ser comemorado. As cerimónias oficiais nada dizem aos portugueses a não ser que fazem crescer em nós um sentimento de revolta e de afastamento da vida política. Onde estão as enchentes do Largo do Carmo ou do terreiro do Paço? Será que o 25 de abril já nada diz aos portugueses? Isto é que deveria ser refletido. E as novas gerações, quem lhes explica o que foi o 25 de abril? Deveria ser a sociedade com o seu exemplo.
Capitão Salgueiro Maia, desculpe por aquilo que alguns portugueses fizeram ao seu 25 de abril. Lamento a situação a que isto chegou e lamentamos todos mas nós somos um povo pacífico e só acordamos quando os problemas nos entram pela casa dentro. Até compreendemos os problemas dos outros, até nos consternamos com eles mas afastamo-nos à primeira oportunidade.
É com tristeza que lhe digo que o seu 25 de abril ainda não se cumpriu e que entendo a atitude dos seus colegas militares em não estarem presentes nas comemorações oficiais.
Só quando os portugueses souberem o que é a verdadeira liberdade, só quando forem ignorados e condenados os maus políticos e elogiados e recompensados os bons, só quando o povo perceber que tem mais poder do que aquele que pensa ter, só nessa altura se cumprirá o 25 de abril.
O 25 de abril deve ser um património de todos e não de meia dúzia de paladinos de esquerda que acham que tal efeméride lhes pertence.
Um abraço e obrigado Capitão pelo que fez por Portugal.